Birra?!


Esta semana atendi um jovem homem, que está passando por alguns problemas em seu trabalho. Este atua em um cargo de chefia numa empresa, na qual vem tendo problemas com seu funcionário. Durante a sessão, aconteceu um pequeno equívoco ao falar. Ao relatar sobre o caso, ao invés de dizer que estava com problemas profissionais, escapou-lhe a palavra: pessoais.
Até aí tudo muito atento, como deve ser a escuta de tal cliente. No decorrer da sessão a qual relatou o fato da dificuldade enfrentada com tal funcionário, disse estar com birra do mesmo. Me veio, inconscientemente, dizer-lhe que birra tem é criança, ou pelo menos consiste em um ato um tanto que infantil por parte do mesmo, haja vista seu lapso (a psicanálise considera o lapso como um ato falho cometido por uma inadvertência ao se falar ou escrever que consiste em substituir por uma outra palavra que se queria dizer) no início da sessão quando ao dizer problemas profissionais, disse problemas pessoais.
Digo isso para ilustrar que muitas vezes somos tomados por sentimentos que se tornam ambíguos e difíceis de manusear no decorrer dos relacionamentos. É preciso que fiquemos atentos para não sermos injustos não só com quem é a vítima como também conosco.
Freud nos trouxe que a transferência é o vínculo afetivo intenso que se instaura de forma automática e atual entre o paciente e o analista. Mas tal vínculo não se resume somente ao paciente e ao analista. Fora da análise esse fenômeno é constante, onipresente nas relações, sejam elas profissionais, hierárquicas, amorosas, etc. Com sentimentos positivos (conscientes, amigáveis, ternos) mas também com sentimentos negativos (agressividade, desconfiança, etc.). Quando Freud, no texto “A dinâmica da transferência” falou sobre a transferência como uma repetição, ele quis dizer que todos nós estabelecemos vínculos afetivos e, que tais fenômenos que nos acomete à luz de emoções amorosas secretas e esquecidas são a repetição de sentimentos de um passado esquecido e que vem à tona a partir de significantes que foram despertados na atualidade.
Portanto, meu amigo leitor, fique atento sempre que tais sentimentos aflorarem em você sejam eles positivos ou negativos. Talvez eles tenham uma relação direta com alguma outra relação estabelecida lá atrás, seja pai, mãe, ou outro ente importante em sua vida. E cuidado, pois não é com birra que se resolve as coisas, muito pelo contrário. Criança quando está com birra, está faltando um “bom corretivo” como dizem os antigos, ou seja, falta-lhe limite. E como adultos que somos, podemos entender melhor nossas “birras” de outras formas.

Comentários

  1. Olá Márcio, parabéns pelo blog, adorei seu post. Cynthia.

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  2. Obrigado Cynthia! Pessoas como você é que fazem a diferença principalmente para continuar partilhando com vocês minhas poucas idéias

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