Sobre o Narcisismo



Para Freud não existe uma separação óbvia entre o individual e o coletivo. Para ele todas as influências recebidas pelo sujeito desde o nascimento não são só em termos de necessidades, mas também primordialmente referentes às experiências de sua formação uma série de fenômenos fundamentais ao ser. É como sua alteridade se inscrevesse em relações simbolicamente articuladas. Por isso dizer que cada “indivíduo” é como uma pequena “sociedade”.
Resumindo, a estrutura pelo que passa a identificação se introduz desde a origem na vida do sujeito e tem efeitos permanentes, devido à série de acontecimentos fundamentais e constantemente renovados através das vicissitudes da existência.
E é através dos conceitos de identificação e ideal da distinção vulgar entre o individual e o coletivo que fica profundamente questionada e nos abre outras vias de reflexão.
O amor é uma espécie de nostalgia de um Paraíso perdido, ainda que, em rigor, aquilo ao que se aspira, esse estado perfeito que se situa em um pretérito indeterminado, é uma ficção reconstruída a posteriori pois o Paraíso sempre esteve perdido.
Podemos dizer que no texto “introdução ao Narcisismo”, o eu ideal é o que faz precisamente que, apesar do intento de Freud em um primeiro momento de manter uma clara polaridade entre eleição amorosa “de apoio” (amor do outro no que o sujeito se apóia) e “narcisista” (amor de um mesmo), e apesar de que dita distinção se pode manter para fins práticos e para dar conta de diferenças que observamos na prática, podemos dizer que todo amor tem elementos narcisistas. Assim, o objeto amado nunca é amado exclusivamente por si mesmo, senão porque ocupa o lugar do eu ideal daquele que ama.
Freud enfatiza as funções de auto-observação, consciência moral, censura dos sonhos e sua influência sobre recalcamento e acrescenta o valor da distância entre o ideal do eu e o eu real. A distância entre essas duas instâncias é muito variável e relaciona-se com a capacidade sublimatória do sujeito, com a capacidade de encontrar satisfação por meio do ideal do eu, que se diferenciou do eu, de acordo com o princípio da realidade. É necessário que o sujeito ultrapasse o limite do narcisismo e direcione a libido aos objetos para não adoecer. A experiência amorosa é um dos caminhos para realizar essa operação.
A identificação que está em jogo no ideal do eu é muito mais fundamental, constitutiva e constituinte da relação do sujeito, e tem sua primeira expressão e seu fundamento na identificação do bebê com seus pais como outros fundamentais. Enquanto que o eu ideal, é uma função estruturalmente dependente de dita identificação fundamental.
É por isso que nas relações que estabelecemos na vida o narcisismo seja tão fundamental; podendo portando compreender que o ideal do eu é construído a partir desse desejo e desse encogo. Porque não se deve esquecer que o termo "narcisismo", tanto para Freud como para Lacan, também remete ao mito de Narciso, isto é, a uma história de amor, na qual o sujeito acaba, ao se encontrar consigo mesmo, por encontrar a morte. E é exatamente este o destino narcisista do sujeito, quer o saiba, que seja enganado: ao se enamorar por um outro que acredita ser ele próprio, ou ao se apaixonar por alguém sem se dar conta que se trata dele próprio, ele sempre perde, e sobretudo, se perde.

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