Traição ou desejo decidido?
Freud nos trouxe o que de melhor podemos ter hoje na vida. Muitos podem contradizer, principalmente aqueles que não sabem lidar com o inconsciente, pois o mundo freudiano não é o mundo das coisas, muito menos o mundo do ser, ele é fundamentalmente o mundo do desejo nas suas mais graciosas maneiras de existir. E, pra início de conversa, só existimos em função da falta, na experiência do desejo. Se nos falta, desejamos. Se desejamos, existimos! E só podemos desejar aquilo que não possuímos... Pena que muitos não compreendem essa premissa e se enveredam, se perdendo nessa busca, tornando o caminho mais em dor do que prazer.
Nem tudo podemos conseguir e os traços obtidos desses desejos é que são o diferencial dessa busca que por nossa sorte, de existir não cessa em completar.
Aproveito para comentar um assunto que muito tem deixado as pessoas com “a pulga atrás da orelha” e tem sido também assunto constante no consultório. Na novela “Passione” uma personagem tem roubado a cena: Stela Gouveia – bela, sedutora e inquieta. Para alguns, infeliz no casamento. Envereda pelos caminhos que muitos insistem em dizer – traição! Mas o que vemos é uma mulher decidida naquilo que deseja. Sem culpas em sua liberdade feminina de ser.
O fato é que a história nos remete ao clássico cinematográfico de Luiz Buñel – Belle de jour (Bela da Tarde) onde Catherine Deneuve é uma mulher casada que no período da tarde trabalha em um bordel para realizar suas fantasias sexuais. E quando o marido chega do serviço, ela já está em casa, representando ser a esposa fiel. E não é a toa que Maitê Proença é comparada a Catherine Deneuve.
Polêmicas a parte, o fato é que a história traz a tona o debate sobre a mudança de comportamento feminino. Com o objetivo de seduzir um belo rapaz e fazer sexo, sem culpa. Alguns especialistas explicam que a maioria das mulheres ainda justifica a traição em relação aos problemas do casamento. Mas também, muitas já admitem que “pulam a cerca” pelo sexo mesmo – como fazem os homens.
Uma cliente, certo dia me disse que as mulheres estão começando a entender que a satisfação sexual não precisa estar ligada ao amor. E no divã, a abordagem vai depender de como a própria mulher está lidando com suas atitudes. Pois só há conflito se houver sofrimento. E é justamente por isso, que o assunto tem incomodado tanto, não só pela infidelidade, pela traição, mas pelo desejo que as pessoas têm e sabendo lidar com ele.
E, antes que atirem a primeira pedra... Pensemos que são notórias as transformações no que tange as relações humanas, implicando também a linha do Direito. O professor e advogado Rodrigo da Cunha Pereira, disse certo dia em uma publicação do jornal Estado de Minas: “enquanto houver desejo sobre a face da terra haverá quem burle a lei jurídica para ir de encontro à Lei do Desejo, ...”
São várias as facetas da busca pelo desejo. Só não deixemos nosso desejo transformar em restos ou cacos que ferem os outros, e a nós mesmos, claro!
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