Falar desse incômodo afeto – o ciúme, tão familiar e recorrente nos dias de hoje é importante e como dizia o filósofo Spinoza: para se transformar um afeto é preciso compreendê-lo.
Alguns especialistas costumam utilizar o termo “relações tóxicas” para determinar quando se percebe que algo não está bem na relação a dois e que caminha mais para situações de desgastes e destruições.
Na maioria das vezes o ciumento é aquela pessoa insegura que quer controlar tudo e sempre muito desconfiada, com medo de ser passada para trás, ser trocada por outra pessoa. É natural sentir ciúme, afinal o desejo do outro é importante para todos e faz parte da vida. Mas quando o ciúme aparece em excesso, devemos analisá-lo. A pessoa é invadida por dúvidas, tendo dificuldades de distinguir a fantasia e a realidade. Algumas vezes assume atitudes de investigação em relação à vida do outro, vasculha objetos pessoais, aparece de surpresa em lugares. E mesmo assim, suas questões não são respondidas, permanecendo a insegurança.
A baixa auto-estima pode ser um dos motivos para o ciúme. A pessoa se sente sem valor, descartável, insegura quanto à sua importância para o outro. Uma idealização excessiva do outro também pode contribuir para o aparecimento do ciúme e, nesse caso, o indivíduo imagina que existem pessoas perfeitas, completas, sempre mais atraentes que ela própria. E nessa comparação acaba sentindo-se inferior e com a certeza de que será trocada por outro. Outro fator importante para compreendermos o ciúme é o sentimento de projeção que é quando a pessoa coloca no outro sentimentos que ela sente. Ou seja, o sujeito pode se sentir atraído por outra pessoa e imaginar que o mesmo acontece com o parceiro.
Amar é saber administrar as diferenças, suportando o sintoma do outro, incomodando ou não. O ciúme numa relação acaba dificultando esse entendimento e a pessoa quer a todo custo controlar a pessoa – um grande engano.
As pessoas costumam ser carentes em relação ao amor, principalmente aqueles muito amados na infância. Freud já dizia que é dever dos pais ensinar os filhos amar e se tornarem adultos fortes e capazes. E que o excesso de afeto dos pais é nocivo tornando a criança mimada, incapaz de no futuro administrar quantidades menores de amor, abrindo uma fenda, um buraco.
A vida nem sempre tem uma reciprocidade, pois as pessoas não são iguais. Nunca serão. Aceitar isso nos liberta de um aprisionamento terrível: esperar que nossa felicidade venha do outro, esperar que alguém chegue para nos salvar de nós mesmos não é algo com que possamos contar. Só vai trazer mais frustrações.
A relação amorosa nos coloca diante de impossibilidades, onde o outro não responde a tudo que desejamos. E, quando damos tudo e cedemos demais, já não temos mais aqueles atributos que atraíram o outro e ficamos desinteressantes. O mesmo acontece quando o outro nos mostra seus limites e sua impossibilidade em atender ao que pedimos e esperamos.
Voltando ao ciúme, cabe lembrar que nem sempre o ciúme é uma fantasia da pessoa. Em alguns momentos, pode sinalizar uma percepção de que algo não vai bem no relacionamento amoroso. O ciúme em demasia precisa ser tratado em análise, pois traz muito sofrimento e impede o estabelecimento de relações tranqüilas e saudáveis. E pra conseguir isso basta desejar! E levar a sério o desejo.
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