Consumismo: a felicidade imediata e maquiada


Depressão, pânico, ansiedade, fobia, estresse, são as formas apresentadas hoje em dia de sofrimento dos sujeitos que buscam tratamento. São denominações atuais do que Freud chamou de mal-estar na cultura e que ele afirmava que alcançar e manter a felicidade, propósito dos seres humanos, é um programa irrealizável. Isso porque a felicidade corresponderia à satisfação imediata de necessidades.
A vida como nos é imposta é árdua; traz dores, desenganos, tarefas insolúveis. E para suportá-la, não podemos somente buscar os calmantes. Eles existem, nos fazem amenizar um pouco nossa miséria, mas não perduram.
Em contrapartida, o mundo moderno indica que devemos ser felizes e completos. Exigindo que para isso compremos. Como se a felicidade estivesse diretamente ligada ao consumo desenfreado. Não nego que há grande satisfação quando adquirimos algo que almejamos há algum tempo. Mas se observarmos há pessoas que não se contentam com um mínimo, sempre querendo mais e mais. Compra um celular hoje, amanhã quer uma TV de LCD, depois quer algo mais e assim vai... Uma cadeia que não tem fim. O perigo disso tudo é o endividamento, muito comum nos dias de hoje com a abertura de crédito, todos podem. Mas é enganoso esse poder. E se não soubermos lidar com ele, ele é quem nos consome, levando o sujeito a um sofrimento sem precedentes. E o aumento da oferta desses produtos é fruto da exaltação do prazer a qualquer custo, sempre ligado à sociedade de consumo, que incentiva a aquisição e o descarte de bens. No entanto, isso cai por terra, não dura muito tempo e sua função de garantir o bem-estar – a felicidade – fracassa. Isso porque o objeto escolhido para tampar a falta não se sustenta e o sofrimento retorna e às vezes sob a forma de sintomas – como disse acima: depressões, ansiedades, angústias, etc. – e, muitos não suportando responsabilizar-se por seu sofrimento, acomodam-se em uma posição de vítima ou de objeto.
A psicanálise propõe para o sujeito é a responsabilização por seu sofrimento, onde devemos lidar de maneira distinta, pois são muitos os lugares onde buscamos amenizar nosso sofrimento, mas que esses lugares não sejam promessas milagrosas de autocontrole e felicidade. A psicanálise oferece acolher o sujeito, sua demanda, seu sintoma e, para isso é necessário valer da confiança. E por aí já posso adiantar que os vínculos sempre são importantíssimos para amenizar o sofrimento nos dias de hoje. Pois nessa era do consumo, os vínculos sempre são frágeis em relação aos objetos de consumo, que são muito mais fortes. Implicar-se em sua queixa, partindo do pressuposto de sua participação na criação e manutenção do próprio sofrimento pode ser uma saída. O que a análise propõe é que cada um possa construir um saber sobre o que lhe causa e assim, mais consciente de suas limitações buscar de forma satisfatória a realização de seus desejos, sem se consumir neles.

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