TURBILHÃO DE EMOÇÕES

Gostaria hoje de partilhar com vocês, caros leitores, dois tipos de transtornos que nos últimos tempos têm aparecido muito na clínica psicanalítica. O primeiro deles é marcado por mudanças de humor repentinas, mentiras que prejudicam os outros, impulsividades, reações imprevistas, explosões de raiva desproporcionais e de desequilíbrio financeiro, são os principais sintomas das pessoas com Transtorno Personalidade Boderline (TPB).
Considerado um transtorno fronteiriço entre duas estruturas de personalidade – neurose e psicose – as pessoas com esse tipo de transtorno têm uma certa vulnerabilidade emocional, extrema sensibilidade à crítica e o medo do abandono, não gostam de se expor, sempre acuado em relação às suas próprias emoções, mas com tendências a reagir mais intensamente aos níveis de estresse, inclusive o simples comentário de uma pessoa pode detonar uma crise.
A família também acaba sofrendo com esse tipo de transtorno, pois se culpam, principalmente por não entenderem a situação ou por não saberem o que fazer e, assim, as relações vão se deteriorando com a exacerbação dos conflitos, principalmente diante das constantes ameaças de suicídio e de chantagem.
O tratamento, além do medicamentoso se faz necessário psicoterapia para trabalhar a conscientização e controle do transtorno, pois na maioria das vezes o sujeito dificilmente aceita-se doente e com necessidade de tratamento.
O segundo transtorno é o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) que alguns anos atrás era conhecido como Psicose Maníaco-Depressiva, doença caracterizada pela alternância de fases entre depressão e agitação. A pessoa apresenta modificações na forma de pensar, agir e sentir, mas sempre vivendo num ritmo acelerado, com comportamentos extravagantes como sair comprando compulsivamente tudo o que vê pela frente.
A alternância dos estados depressivos com os maníacos é a principal característica, mas até chegar ao diagnóstico correto, pode demorar anos. Uma pessoa na fase depressiva pode passar anos em tratamento depressivo e, depois de um certo tempo apresentar um episódio maníaco. O termo mania é popularmente conhecido como a tendência a fazer várias vezes a mesma coisa, se exaltando no humor.
A fase maníaca, leva de uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar meses. Com o humor exaltado, a maior característica é uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva; junto a isso pode ter uma auto-estima elevada, sentimentos de grandiosidade considerando-se uma pessoa especial, dotada de poderes ou capacidades únicas. A atividade motora está aumentada, ou seja, apresenta grande vigor físico. A pessoa tem necessidade de falar ininterruptamente, as idéias fluem rapidamente, a percepção está elevada, mas com os estímulos externos, tende a distrair-se fácil, com pequenos acontecimentos. Apresenta perda da consciência a respeito de sua própria condição patologia, o que leva a recusar alguma forma de tratamento, ou aceitar o fato de estar doente e, muitas vezes, pode se envolver em situações perigosas sem preocupar-se com isso.
Na fase depressiva, o humor está depressivo, a auto-estima está baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física está comprometida, com sensação de cansaço constante. As idéias estão lentificadas e com dificuldade de manter a atenção e o interesse pelas coisas, bem como o prazer na realização daquilo que antes era agradável. O sono também está diminuído, mesmo que tenha necessidade de ficar deitado ou descansando.
O tratamento para esse tipo de transtorno inclui necessariamente medicamentos para estabilização do humor com a associação de antidepressivos e também psicoterapia para saber lidar com as alterações do comportamento.
Como vocês podem perceber, ambos os tipos acima citados, apresentam uma sutil diferença, o que na maioria das vezes pode esconder outros agravantes, principalmente para o sujeito como para sua família que sempre sofre junto. Precisamos estar atentos quando as coisas à nossa volta começam a dar indícios de algo não muito natural, com excessos. E uma pessoa doente, seja ela qual for a doença, pode muitas vezes adoecer outras pessoas, dificultando ainda mais o tratamento