Elaborando o luto
O sentimento da morte – o luto – nos provoca, nos dá nos nervos, como dizem alguns. Seja da mais incômoda apatia, até as inevitáveis cenas de explosões agressivas. Falo isso caro leitor, por ter recentemente passado por esse viés. Mais exatamente, há um mês, no dia 17 de junho de 2011, quando perdi minha avó: Júlia Rosa Rodrigues, aos 94 anos esbanjava vitalidade. Além de um grande conhecimento pelas coisas, queria sempre mais. À frente de seu tempo, ou melhor, à frente de muitos jovens, era possível conversar com ela sobre diversos assuntos, sejam eles os mais polêmicos, sempre tinha uma palavra especial que fazia com que refletíssemos sobre nossas próprias posições. Eram sempre temas que para a maioria poderia levantar preconceitos, ela não, sabia enfrenta-los, dominá-los como ninguém.
Além de uma grande mãe, símbolo marcante dentro da psicanálise, deixa o lugar vazio, sem ocupações precedentes, mas deixa lembranças e as mais gratas possíveis.
Por mais que nosso inconsciente teime em mostrar a cada um de nós a imortalidade; a morte sempre vai estar nos rodeando, seja pelos desconhecidos, seja pelos parentes mais próximos, mostrando mesmo nossa finitude.
Freud, em um texto chamado “luto e melancolia”, de 1917, fala que nós fugimos da morte ao invés de aproveitarmos a vida, refugiando num mundo de fantasias e ilusões. Mais um motivo para citar minha saudosa avó, que sabia viver sem temer a morte.
Mas voltando ao luto, que é o lamento da perda vivida, é também um momento interior difícil, lento e doloroso de elaboração e adaptação à perda sofrida. É preciso fazer o que Freud chamou de “trabalho de luto”, reconhecendo a perda, mas também fazendo esse desinvestimento ao objeto perdido, desligando das lembranças e esperanças que se relacionam à ideia de um possível retorno do ente querido. Difícil mas necessário para a superação da dor. A vida continua, mesmo com a morte pra nos parar em alguns momentos. Deixo aqui meu carinho por esta mulher que pra mim é um grande referencial de vida!
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