Ser analista...


Ser analista não é fácil. Assumir essa posição requer muita estrutura. Ser forte. Abrir mão de muita coisa. Ficar no lugar de resto. Nessa posição, de objeto, lembro-me de uma colocação de J. D. Nasio em seu livro: ‘Como trabalha um psicanalista?’ onde faz uma analogia ao jogo de tênis, em que de um lado está o analista e do outro o paciente e a raquete sendo o desejo e a bola o objeto. Tanto paciente quanto analista jogam tênis, um jogando a bola para o outro, numa brincadeira, mas é sério, é um jogo. E, no momento que a bola se aproxima, a angústia também. É preciso saber jogar para não deixar a bola passar direto, cair. A mira é importante e isso afeta os participantes do jogo, seja no envolvimento ou não.
Lembro de que escutar não é fácil. Saber levar o paciente até onde pudermos também não é fácil. E nesses momentos podem surgir as resistências que são nada mais, nada menos que o não saber o que fazer, a ignorância. É ela que leva aos momentos da falta de uma palavra esperada, uma palavra proferida em tempo inoportuno, silêncios impróprios, excessivos, intervenções técnicas demais, intelectuais demais.
Tenho tido a grata oportunidade de conversar com um amigo psicanalista argentino Lucas Luque sobre esse tempo em que vivemos onde a busca por tratamentos alternativos tem sido um imperativo e, a dificuldade de se engajar numa análise; ao passo que isso é uma tendência mundial, há exceções. Não devemos nos preocupar, se nos posicionarmos adequadamente – ser objeto. Isso significa que não estamos nem sós, nem com os outros, estamos sem ninguém, como a bola de tênis. E por estarmos sem mais ninguém, somos objeto.
Ao que parece, aliás, é evidente que as pessoas vêm com um discurso de mercado, de ‘saber’, pedindo terapias breves e eficazes. E retomando a questão acima de ser objeto ainda não encontrei a maneira de ser/fazer semblante de objeto causa de desejo, já que a demanda é justamente contrária a essa. Talvez o importante é não cair nessa armadilha de responder à demanda do paciente, quem sabe assim despertar o desejo.
O analista é aquele que sempre aponta a falta. Fazer análise, implica necessariamente perder, sair de um discurso e se apropriar de outro, o Outro do inconsciente, fazer sintoma, questionar-se. Pois é na falta que o sujeito deseja.
Não é função nossa curar, acabar com o sintoma, pois onde há sintoma, está o sujeito. e seu desejo. o sintoma não foi feito para ser curado mas para ser feito um bom uso dele e que o sujeito se reconheça dividido, barrado, sendo causa de desejo.

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