Escolhas possíveis

Engraçado como as pessoas sempre estão em busca de soluções fáceis para o dia a dia delas. Recentemente, em meu consultório me deparei com uma situação, corriqueira, diga-se de passagem. Um cliente, por volta dos seus 30 e poucos anos queixava da dificuldade que é arrumar uma parceira nos dias de hoje. Claro, que ele tem a nítida noção de que vivemos em um mundo onde as escolhas são muito rápidas e também o consumo é no estilo fast food. Até aí nenhuma novidade. Mas a surpresa vem sempre através das respostas rápidas que o sujeito busca e da frustração que ele se coloca quando percebe que também ele se implica em tal situação, já que as escolhas dele também são desse tipo. Sempre com duas ou mais parceiras, de forma que se uma não da certo aqui, é só chamar a outra, e assim vai levando a vida. Ao ser indagado sobre suas escolhas, ele se surpreendeu, mas não quis aprofundar muito. Como sempre fazem. Logo em seguida soltou a máxima: “- Doutor, não tem um remedinho que possa me ajudar?” Não existe remédio pra solucionar decepções ou frustrações amorosas. Nossas escolhas são aquelas mais fundamentais a nos ajudar em nossa caminhada. São elas que nos mostram como os significantes regem nossas vidas. No caso desse cliente por exemplo, durante seu processo analítico muitos foram os momentos de elaboração de suas angústias e sofrimentos. Certo dia, queixava de não confiar na namorada e que precisava terminar com ela, mas não conseguia. E, o neurótico é mestre nisso, como não consegue sustentar seu desejo, vive submetido ao outro, sem direito a realizar-se, sempre frustrado, numa posição digamos, bastante passiva. Contava ele que o mesmo repetiu-se com o pai quando mais novo, quando não podia ter voz. Era sempre o pai quem decidia as coisas, mesmo já ajudando nas tarefas administrativas da fazenda. Lembro que recentemente li um artigo num jornal sobre a dúvida do neurótico que cabe bem nessa minha elaboração. Ele, neurótico, se situa entre o estar fora de seu eu ou ao lado do narcisismo, o amor do eu. Por essa divisão, precisa fazer valer sempre os significantes que busca de potência, estratégias que usa para impressionar o outro. Assume posturas de bonzinho, prestativo, sempre com o intuito de ser imprescindível. E de fato realiza ações assim mesmo, como ser perfeito, impecável, atraente, acumulando dinheiro, posses, mulheres, objetos que lhe conferem valor. Sempre tudo que traga notoriedade, pois é um exímio colecionador. Mas de tudo isso nada adianta, pois a falta sempre vem para atormentá-lo. Como fica sempre nessa posição de querer mais não se contentando com o que tem, vai caminhando à mercê de seu sofrimento pela impossibilidade de realizar o ato, ou seja, de fazer escolhas. Pois são elas que movimentam nosso desejo.

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