Agressividade no Divã

Esta semana tive dois casos que gostaria de compartilhar com vocês. O primeiro diz respeito a um rapaz que chega contando que no fim de semana teve um desentendimento com o ex-namorado. Uma história de mais de 5 anos entre idas e vindas e que no final muita agressividade e traições presente na relação a ponto de tornar-se insuportável a convivência entre ambos. Atualmente, separados, mas com alguns encontros esporádicos. Nesse último, depois de uma noite de muita bebida, ambos desentenderam e brigaram a ponto dos vizinhos incomodados, chamarem a polícia. Tal cena repercutiu durante a semana junto aos colegas de trabalho deste meu cliente que envergonhado chega à sessão de análise relatando tal ato. Como é difícil entender o término de algo que não tem mais jeito. Outro caso é de uma cliente que recém separada do marido, tem um encontro com o mesmo, de forma como a mesma disse ‘enlouquecedora’ mas que depois do ato, veio o vazio enorme, avassalador. Com sentimento de arrependimento pois esperava com tal atitude uma volta do ex, que deixou claro que queria apenas a relação sexual. O que dizer desses dois casos que teimam em não dizer. A questão que se encontra em análise e dizer daquilo que não se sabe o que dizer. Ficamos horrorizados com a violência alheia, como se pudéssemos ser livres dela, violência, da maldade. É característica do homem negar sua agressividade e pulsão de morte. Negamos a agressividade em nós e em quem amamos, condenando a do vizinho, do estranho. Esquecemos que dentro de nós habita um estranho, que nada queremos saber sobre ele. Por trás de um gesto de ajuda, está implícito outro de cobrança, de reciprocidade, por isso odiamos e amamos, indistintamente. A agressividade pode ser transformada em ódio em situações desfavoráveis, principalmente em situações passionais, como no caso do primeiro cliente. Na espera de um retorno que responda ao próprio capricho agimos de forma individualista, egoísta. Em ambos os casos, o sujeito apaixonado esquece dele e só pensa no outro, a tal ponto de fazer qualquer coisa pela pessoa, esquecendo sua individualidade, sua vida, vivendo em função do outro, sujeitando inclusive situações como essas que aconteceram. Freud criou a psicanálise em uma época que tratava o passado e a cura era compreendida como um processo de conhecer-se melhor. Hoje, temos que ir além. Temos que considerar a singularidade da solução que um sujeito inventa, por meio de seu sintoma, para dar conta de tudo aquilo que se apresenta para além do pai. É preciso mais responsabilidade pela escolha do parceiro ou do sintoma com que se goza. O gozo hoje não é mais vivido como incestuoso e impossível. As manifestações sintomáticas contemporâneas são, muitas vezes, invenções para tratar o real. Na existe felicidade possível quando o objeto do desejo é marcado para sempre pela impossibilidade de satisfações.

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