Triunfo da Religião

Recentemente li o livro que tem como título o “Triunfo da Religião, Precedido de Discurso aos Católicos”, de Jacques Lacan que, não é fácil, pois entender Lacan também não é. Para isso, agarremos às máximas que o psicanalista vai deixando pelo caminho e tentando arrancar delas alguma dedução lógica ou conclusão que possa nos acalentar. Ao ler mais esse livrinho, fiquei curioso com o título, principalmente saindo da boca de um psicanalista como Lacan. Ele comenta que Freud nunca falou da posição do cientista, porque essa assunto era tabu para ele. E sobre o fim da religião, Lacan vai em direção contrária, prevendo um retorno religioso em nosso tempo em conexão estreita com os avanços da ciência. Lacan fala que “a religião não triunfará apenas sobre a psicanálise, triunfará sobre muitas outras coisas também. (...) O real, por pouco que a ciência aí se meta, vai se estender, e a religião terá então muito mais razões para apaziguar os corações”. Como sabemos que não há muita transparência na comunicação que Lacan estabelece em seu discurso, compreender a complexidade dos conceitos trazidos, principalmente o Real, que é o que não funciona! Então, a função da religião, diante do Real, é encontrar uma tradução para tudo, de forma a curar os homens, ou melhor, para que não percebam o que não funciona. O real é o inimaginável, o que não é compreensivo em sua totalidade, para onde a ciência não conseguirá achar um sentido depois de todas as reviravoltas. Na ciência, o real só aparece por indícios mínimos, como por exemplo os “gadgets”. Já a religião é capaz de dar um sentido a qualquer coisa, até mesmo à totalidade do inimaginável e, é por isso que ela sempre ganha. O mais curioso nessa teoria, é que a ciência (a psicanálise, incluída) parece ter surgido como um sintoma de um mundo para o qual Deus estava morto. E isso não significa a morte da religião, ao contrário. “Totem e Tabu” nos mostra que o pai só proíbe o desejo com eficiência porque está morto. O real sendo inacessível, é onde Deus está, mesmo morto. Um sinal de que a religião continuará com a função de “curar os homens da angústia” diante da falta, de não deixá-los perceber “o que não funciona”. Lembrei muito deste livro, num relato de uma cliente às voltas com o pai extremamente ligado ao discurso religioso, querendo que a filha encontre “a cura” pela religião e só assim poderão ter um encontro em família. Será?

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