O uso abusivo de Psicofármacos

Vivemos num momento em que a medicação tem uma grande ascensão diante da vida contemporânea. Hoje pode-se tomar pílulas para dormir, emagrecer, manter a juventude, recuperar a memória, a atenção, o desempenho sexual, atingir o bem-estar, ser mais produtivo e, ser feliz.
Ao mesmo tempo, observamos que as depressões e os sofrimentos íntimos do ser humano têm aumentado cada vez mais. É verdade que entre os anos de 1960 e 1970, a depressão se estabelece no meio da medicina geral e se expande para toda a população, por intermédio da mídia. Sejam os laboratórios, as revistas, os jornais, a televisão, etc. todos cumprem seu papel de propagadores. É como se esse fosse o momento ideal para o ser humano se sentir feliz, pois o psicofármaco vem atuar como um antídoto para o mal-estar da modernidade.
Num sentido contrário, observa-se um aumento de um mundo solitário, individualista, os comportamentos coletivos reduzem produzindo ainda mais um desamparo nas pessoas. É o bem-estar da auto-suficiência, da onipotência, reduzindo a vulnerabilidade e a insegurança, protegendo o indivíduo de seu sentimento de incapacidade e fragilidade frente à vida.
Pode-se pensar que as depressões da contemporaneidade refletem a insuficiência do homem de hoje. É como se a singularidade e particularidades do sujeito, pouco contassem para o entendimento de suas doenças mentais. E para a psicanálise, é importante estar atento ao que as pílulas falam. As depressões questionam a relação entre o normal e o patológico. E aí ressalto Freud que nunca rejeitou a biologia dizendo que ela é verdadeiramente uma terra de possibilidades ilimitadas e que devemos esperar que ela nos forneça as afirmações mais surpreendentes.
Lembremos que o mundo de hoje é um mundo onde o predomínio do esquecimento e da artificialidade dos vínculos é que impera. O homem pode drogar-se para esquecer das misérias da vida e pode, também, estabelecer vínculos artificialmente solidários e alegres com as drogas. Há uma procura pela euforia por um maior momento de criatividade e produtividade e, igualmente, pode medicar-se para escapar do sofrimento e desfrutar de felicidade, não é a toa que o Prozac (fluoxetina) recebeu por muitos o apelido de “pílula da felicidade”.
O uso dos psicofármacos de um modo geral age de modo semelhante às drogas. Como exemplo, pensemos no Prozac. Seu uso contemporâneo é semelhante aos benzodiazepínicos (calmantes) de algum tempo, ou seja, o sujeito pode ter uma relação com estas substâncias parecido à de um drogado que vai comprar droga no morro. É uma busca única e exclusiva, só que a busca agora é noutro lugar, a farmácia.
É preciso que façamos distinção entre um sujeito que se medica de um que usa como o psicofármaco como droga. Um remédio pode tornar-se tóxico e vice-versa.
O sujeito que usa a medicação, busca, inicialmente, restaurar seu modo habitual de funcionamento do seu corpo, sua constância, sua normalidade. Se a droga está do lado do excesso, do tóxico; a medicação estaria do lado da cura, se assim podemos dizer. Por exemplo, quando se indica a medicação para o tratamento de uma alucinação ou de uma mania, sua função é produzir um efeito “negativo” nos sintoma, ou seja, a diminuição daquele sintoma, daquela excitação. O mesmo acontece numa depressão, espera-se o efeito “negativo” do sintoma, a diminuição daquele estado de desânimo e, assim restaurar o ânimo. Mas e aquele sujeito que não vive sem a medicação, sem necessitar dela? Como fica o uso de uma medicação que estaria de certa forma “sem efeito”? Como explicar essa “dependência” da medicação? Poderia também ser explicada semelhante ao usuário de droga? Poderíamos dizer que sim, mas não podemos nos descuidar do contexto desta para o sujeito, ou seja, o que representa o uso/abuso do psicofármaco.
Associando ao estado de dependência química, podemos dizer que estar dependente é estar sob o domínio de algo que é superior a ele, a droga. É por exemplo, querer parar de usar droga e não conseguir.
E quem quiser saber um pouco mais é só entrar em contato, pois este tema desenvolvi num trabalho de monografia, onde muito tem a se falar...

Comentários

  1. O senhor acredita que seja necessário uma maior divulgação sobre como conter o uso abusivo de psicofármacos? Pois, acredito eu que, no mundo em que vivemos hoje, onde tudo é padronizado e parece ser necessário fazer parte do padrão para estar incluso na sociedade,há a falta de diálogos internos -consigo mesmo.
    Para o senhor o que é mais funcional no caso de ansiedade, por exemplo: o uso do medicamento e acompanhamento médico, ou se auto-resolver com um acompanhamento médico ? Digo, o diálogo consigo mesmo. Se entender melhor, conversar e esclarecer para si o que quer, como quer e o que tem de ser feito para conseguir ... obrigada

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